terça-feira, 24 de julho de 2018

Observação Planetária 14/07/2018


De forma bem descompromissada realizei uma observação nesse dia visando todos os planetas visíveis a olho nu como Mercúrio, Vênus, Júpiter, Saturno e Marte. Tive a ilustre companhia do Alex Machado, amigo aqui de Campo Mourão que também é um admirador dos astros.

Depois de vários dias com temperaturas bem baixas tivemos uma ótima janela de oportunidade para observar confortavelmente sem aperto nesse aspecto. Coisa que me desestimula muito para observar é frio demais, como sou de Brasília lá começamos a observar com temperatura em torno de 19 graus e por volta das duas da manhã estamos parando na faixa de 10 graus no mínimo. Aqui no Paraná, salvo no verão é claro, tem vezes que se começa a observar já com 12 graus no inverno que tem céu mais aberto, aí como diz o ditado quebra minhas pernas rsrs.

Planejei montar o telescópio às 17:00, mas como a conversa ao telefone com minha mãe foi maior que eu imaginava acabei montando tudo às 18:00. Não perdi nada na verdade, pois eu não tinha ângulo de visão para ver Mercúrio, planeta esse que nunca consegui observar ao telescópio dada a grande proximidade com o Sol é difícil observá-lo. Em apenas 15 minutos já estava com a mesa de camping montada com a caixinha de oculares e o telescópio Enterprise (meu 200mm) no local para admirar o "primeiro" planeta da noite, Vênus.

Vênus estava como uma lua minguante, só "meia lua", contudo mesmo assim eu consegui de relance e com dificuldade observar algumas partes escuras na superfície, detalhes não detectados pelo Alex. Usamos a ocular Starguider 8mm que alcança 150x de aumento (1200mm do telescópio dividido pelo tamanho da ocular 8mm = 150x). Aumentando mais que isso com a ocular de 5mm a imagem não dava um foco agradável. O filtro lunar que permite a passagem de apenas 13% da luz ajudou bastante.

Júpiter. Esse estava em excelente posição, bem no alto (zênite) e com isso o a nitidez foi soberba. O Alex me pareceu impressionado com a vista. Eu mesmo não lembro de ter visto tão bonito. Vimos três faixas de nuvens e reparamos que a maior delas não estava contínua apresentando o que parecia uma perturbação de turbulência. Luas Io de um lado, Europe e Ganymede do outro próximas ao planeta e Calisto mais distante. Mais uma vez não consegui ver a bendita mancha vermelha do planeta mesmo já tendo observado ele diversas vezes, um dia eu consigo.

Saturno. Esse até minha esposa veio ver, realmente é a joia da coroa do sistema solar. A sensação que nós três compartilhamos era de estar vendo uma imagem em três dimensões, pois era possível perceber a esfericidade do planeta. Até sombra dos anéis era visível no planeta sem contar claro com a bela divisão de Cassini. Luas Titan, Rhea, Tethys, Dione e Enceladus visíveis, algumas bem difíceis de ver.

Marte. Esse é um cara sempre complicado, parece realmente o deus da guerra, temperamental. Observar Marte é um caso de sorte a meu ver, pois após diversas tentativas apenas em uma ocasião tive a sorte de ver detalhes como o grande Vale Marineris e a calota polar. Mesmo observando no período de aproximação à cada dois anos não é fácil. Usei um filtro recomendado por colegas em fóruns, o Moon & Skyglow, mas dessa vez não tive sucesso. Eu vi uma bolinha branca e só. Troquei de ocular e filtro (usando o da lua) e nada. Dessa vez sem detalhes. Dia 27 de julho é a oposição do planeta, quando estará mais distante do Sol, e dia 31 desse mesmo mês Marte fará uma das maiores aproximações já realizadas pelo planeta e possivelmente mostrará algum detalhe, tentarei observá-lo novamente.

Aproveitamos o ensejo para observar outro astro presente o belíssimo aglomerado globular Ômega Centauro do qual eu sempre friso serem visíveis dois "buracos" na sua parte central, um maior que o outro, como se fosse uma queda de densidade de estrelas no aglomerado, coisa que já vi em algumas astrofotografias com exposição não tão longa. O Alex frisou que já observou com a mesma qualidade que viu no Enterprise, mas em telescópio muito maior o que acredito ser questão de alinhamento e qualidade das oculares além da noite estar favorável também.

Foi uma observação tranquila e muito agradável com um bom bate papo astronômico.

Finalizamos por volta das 21:30 horas quando a temperatura já começava a diminuir.

Até a próxima.

Renato

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Observando Variáveis Maio 2018

Depois de algumas observações visuais contemplativas fui variar para as variáveis. Com o perdão do trocadilho, fui preparar a observação dessas magníficas estrelas que não se contentam em iluminar o universo, mas enriquecem a observação daqueles que testemunham suas variações de brilho pelos motivos mais diversos, seja por conta de pulsações internas em sua constante luta da gravidade e da fusão nuclear, por conta de um eclipse de estrela companheira ou até mesmo a ejeção de nuvens de carbono que encobrem as estrelas periodicamente entre outros motivos. Bom, vamos à parte prática.

Dia 10/05/2018

Simulei o céu com o famoso programa para smartphone Stellarium para ver as constelações mais interessantes no horário que eu dispunha. Não que seja necessário fazer essa simulação eletrônica afinal podemos olhar para o céu e ver as constelações disponíveis uma noite antes, mas foi apenas uma forma de aproveitar uma hora vaga no trabalho para ver como estaria o céu e assim escolher boas variáveis para aquele momento.

Consultei minha planilha de variáveis que é onde listo todas aquelas estrelas que ao longo do tempo fui acumulando com pesquisas e indicações de amigos. São estrelas interessantes para um observador visual as quais estão ao alcance de binóculos e pequenos telescópios.

Verifiquei que ao sul tinha Centauro, Carina, Cruzeiro do Sul e ao norte destacava-se Boieiro. Anotei as estrelas em um papel, imprimi as cartas que ainda não tinha e levei pra casa, não observei naquela mesma noite. No dia seguinte separei as cartas da anotação e coloquei na prancheta. Acho que isso foi o que me facilitou a vida, ir preparando a observação aos poucos, sem pressa. Vejo as constelações, vejo as estrelas, separo as cartas e ponho na prancheta e espero uma noite estrelada. Não é necessário realizar todos os procedimentos para observar de uma só vez, até porque isso pode dar preguiça de fazer. Em tempos de distrações e muitos compromissos, podemos preparar uma sessão observacional aos poucos. Aí quando uma boa noite surgir, deixamos de lado a televisão e vamos para o quintal deitar numa cadeira de praia com um binóculo no pescoço relaxar. Pode-se inclusive colocar uma música de fundo ao gosto de cada um.

Foi dia também de estrear o binóculo Celestron Skymaster 15x70 que adquiri recentemente, logo escreverei um post dedicado aos meus atuais binóculos. Eu tinha que dormir às 23:00 e comecei observar tarde, era 22:20 então pensei comigo mesmo, se eu estimar apenas uma estrela já estou no lucro. Se agente não mora sozinho é importante combinar com sua parceira ou parceiro que vai observar para que um facilite a vida do outro ajudando a aumentar a janela de tempo, como eu não avisei minha esposa antes acabou que sobrou pouco tempo. Voltando ao binóculo, como estava empolgado com o 15x70 de cara peguei ele, mas não foi uma boa ideia afinal o campo de visão é pequeno e isso dificulta achar as coisas, não achei RX Bootes, aí peguei o velho companheiro Órion 10x50 e rapidinho achei a estrela. Estimei em 7.9 com ajuda da carta da AAVSO. Depois foi fácil ver a estrela com o 15x70 afinal eu tinha acabado de aprender o local exato. Também tive ajuda do Pocket Star Atlas Jumbo. Eram 22:40 e pensei em estimar mais alguma estrela, mas as imagens que eu estava vendo com o binóculo 15x70 me impressionaram tanto que continue a contemplar. Apontei para Antares e para minha surpresa vi claramente o aglomerado globular Messier 4. Como era possível? Sim ver com esse binóculo é como ver em um pequeno telescópio, as imagens impressionam! Aí logo pensei em Ômega Centauro e não deu outra, visível como se estivesse olhando por um pequeno refrator. Me empolguei e fui para Plêiades do Sul, Eta Carinae, NGC 3532 brilhava como uma cidade no céu, M6, M7 e todos estavam belíssimos. O peso do binóculo cansa com o tempo, treme na mão e o foco não é fácil para mim, mas compensa o esforço. O som ambiente desse dia foi Fratoroler - Augen-Blicke.

Dia 14/05/2018

Esse dia foi dedicado exclusivamente às variáveis. Ao sair do trabalho fui direto para casa e ao chegar já avisei a esposa que iria aproveitar o bom céu e observar, então adiantamos um jantar leve seguido de um descanso antes de preparar o ambiente.

Montagem da mesa de camping por volta das 21:00 com binóculos, Pocket Star Atlas Jumbo, lanterna vermelha, prancheta com cartas previamente selecionadas conforme constelações presentes, caixinha de som, cadeira de praia e banquinhos ao lado para apoiar os itens mais usados. Nessa noite me senti um verdadeiro variabilista, pois foram estimativas rápidas e consistentes, ao todo 7 estrelas estimadas. Só não foram mais porque estava ficando muito frio e resolvi deixar mais para outro dia. Nesse dia o som ambiente foi Perge - Aural Coefficients Within A Fractal Plane.

Seguem estimativas:

Em 10 de maio de 2018:

RX BOO Magnitude 7.9

Em 14 de maio de 2018:

L2 PUP Magnitude 6.3

R LEO Magnitude 6.3

AG CAR Magnitude 4.2

V341 CAR Magnitude 6.4

S Car Magnitude 6.2

R Car Magnitude 4.7



Imagem do ambiente:


Na noite seguinte tentei observar de novo, mas o céu fechou para chover logo depois das 8, aí foi só relaxar ouvindo a chuva e esperar uma boa noite novamente.

Abraços

Renato

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Lua Nova Abril de 2018, Céu de Cristal


Essa noite foi show de bola. A observação foi muito produtiva.

Ao sair do trabalho às 19:00 fui buscar minha esposa em seu trabalho e percebi que o céu estava belíssimo com a Lua ainda nova com boa luz cinérea e logo abaixo estava Vênus. Então fomos num restaurante onde pedi um bife acebolado e jantamos. Ao chegar em casa por volta das 8:30 pensei comigo, tenho 30 minutos para descansar e 30 minutos para montar oposto observacional no meu quintal dos fundos e às 21:30 começo a observar.

A temperatura estava em torno de 22 graus, o que para astronomia é muito agradável quando normalmente observamos temperaturas bem mais baixas. A trilha sonora inicial começou com o álbum Attalus do Perge, depois de um tempo eu achei meio agitado e mudei para outro álbum do mesmo grupo o Attalus Sessions que apesar do nome parecido tem um clima bem diferente esse bem astronômico. Meu cachorrinho Luke (Skywalker) estava mordiscando meus pés como ele costuma fazer, algumas horas ele parecia interessado no que eu estava fazendo, mas logo voltava a mordiscar meus pés rsrs. Os grilos cantavam alto e finalizavam a composição astronômica do ambiente.

Os equipamentos utilizados foram binóculo 7 por 35, binóculo 10 por 50, Pocket Sky Atlas Jumbo,  o Enterprise (apelido do telescópio de 8 polegadas), prancheta, lanterna com várias camadas de papel celofane vermelho e o mini som bluetooth.

O céu estava muito cristalino e as estrelas não cintilavam o que me deu a entender boa estabilidade atmosférica que gera ótima transparência do céu para se observar.

A planilha dos alvos já estava pronta antes do início de período da lua nova segue imagem abaixo da planilha com anotações (bem feias, escrever no escuro é complicado).


Iota Cancri é uma dupla colorida uma estrela grande branco amarelada e uma outra ligeiramente arroxeada ambas muito bonitas com 150 vezes de ampliação. Percebi as cores bem destacadas com outer focus, ou seja, desfocando para fora.

Nebulosa Espiral NGC 2903 em Leão com magnitude 8.9 só vi uma manchinha, mas já fiquei satisfeito pois trata-se de uma galáxia extremamente distante há cerca de 30 milhões luz de distância. Observar do quintal de casa mesmo que seja uma manchinha de algo tão imensamente distante já impressiona. Imagine que a luz que eu estava vendo saiu daquela galáxia ha 30 milhões de anos atrás! Em quilômetros prefiro nem calcular essa distância.

Tripleto de Leão não consegui ver três, apenas duas, certamente as mais brilhantes, preciso ir para uma fazenda para observar melhor galáxias. Contudo a imagem dessas duas foi forte e bem bonita, em M66 era possível ver algumas estrelas bem próximas, do nosso ponto de vista é claro, bem pequenas que davam mais beleza na composição.

A Galáxia Espiral do Sul M83 mostrou um núcleo bem forte. Consegui perceber que não era só um ponto brilhante, mas detectei parte da estrutura do núcleo, ver isso da cidade já me deixou bem contente. Notei uma pequena dupla ali na região próxima, investiguei melhor em um Atlas mais completo o Deep Sky Hunter e constatei a real duplicidade da estrela bem coladinha à galáxia, um show.

Izar é uma estrela dupla que eu achava ser mais fácil de ver mas elas são bem próximas, é difícil separar, só com bastante aumento na casa dos 150 vezes uma grande e uma pequena bem juntinhas as cores não ficaram claras para mim mas a tonalidade era nitidamente diferente. Bem perto vi uma variável W Bootes a olho nu, sua variação é de apenas 0.31 de magnitude, visualmente não é muito interessante de se observar, pois é difícil notar a mudança de brilho.

Desisti de observar os aglomerados globulares por conta das nuvens que começavam a aparecer especialmente na região deles, então resolvi observar velhos companheiros como Omega Centauri que com 150 vezes apresentava incontáveis estrelas bem separadas e distintas, consegui ver até dois espaços meio vazios no centro do aglomerado coisa que antes só consegui ver em um telescópio de 11 polegadas.

Aproveitei para apontar para a nebulosa de Eta Carinae já que estava alta no céu e tive uma visão maravilhosa, consegui ver mais nuvens do que o normal acho que o céu estava com ótima qualidade nesse dia. Ao colocar o filtro UHC a imagem quase ficou tridimensional muitíssimas nuvens bem contrastados aí resolvi focar em Eta Carinae fiz diversos aumentos estou quase certo de que vi homúnculo que são nuvens de gás enormes lançadas da estrela Eta Carinae. Foi a primeira vez que consegui perceber essas nuvens, realmente o céu estava cristalino.

Para finalizar resolvi apontar para Júpiter que estava tão brilhante que chegava a ser ignorante no céu e valeu a pena. Consegui ver três luas uma delas curiosamente fora do eixo normal de órbita ao qual estou acostumado a ver. Vi ao todo dos seis faixas de nuvens sendo que em uma delas conseguia não apenas ver a faixa, mas as nuvens em si esfumaçadas e tudo. Creio que foi a melhor visão de Júpiter que já tive e mais uma vez não consegui ver a mancha vermelha ela sempre está para outro lado creio eu creio eu.

Finalizei a sessão de observação por volta das 23 horas com a temperatura já abaixo de uns 20 graus e bem satisfeito não com a quantidade de observações mas sim pela qualidade delas, o céu realmente ajudou. Não é fácil coincidir Lua Nova com céu aberto então antes do período de Lua Nova já é bom preparar alguns alvos caso o céu abra assim já se fica preparado.

Então foi assim que comecei a temporada de observações visuais 2018.

Abraços e céus limpos!

Renato

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Estimando a variável Mira Ceti a olho nú!


Ao sair no quintal dia 7 de fevereiro de 2018 por volta das 23 horas no centro oeste paranaense reparei o céu cristalino, então corri para pegar os binóculos e cartas de busca da prancheta. Reparei que esqueci de deixar a postos a luz vermelha, coisa que fez falta, fui me virando com a pouca luz indireta que vinha da sala onde minha esposa assistia TV.


Coloquei os equipamentos sobre a mesa da cozinha e retirei os binóculos de suas bolsas e as tampas protetoras de suas lentes. Indo para o meio do quintal apontei o binóculo Roya 7x35 que tem um bom campo de visão, para encontrar nada menos que Mira Ceti, a estrela que me inspirou a observar variáveis e que a mais de quatro anos tento observar, mas como a constelação está no céu apenas na época da chuva, observá-la não é fácil.


Usando naquele momento o aplicativo Stellarium com o smartphone no brilho mínimo e a opção de tela vermelha ligada, percebi que seria fácil achar saindo daquele formado de V que existe na constelação de Touro e usando esse mesmo V como uma seta segui em frente passando por Lambda Tauri uma estrela binária eclipsante magnitude 3.4, chegando em Omicron Tauri magnitude 3.6 e bem próxima a Xi Tauri outra dupla binária eclipsante magnitude 3.7. Seguindo em frente chego ao rabo da baleia e vejo Menkar mag 2.5, alfa da constalação da baleia, bem próxima Kaffaljidhma mag. 3.5 e logo após Delta Ceti uma variável pulsante Mag. 4.0.


Depois de fazer todo esse caminho me deparei com uma situação curiosa, no mapa eletrônico mostrava magnitude da estrela Mira Ceti como 6.45, na prática estou ciente que o Stellarium não sabe exatamente as magnitudes das variáveis, mas fui buscar com essa informação em mente, aí vem a parte curiosa, no lugar havia uma estrela mega brilhante totalmente visível a olho nú. Vi o mapa eletrônico denovo, conferi com a carta da AAVSO várias vezes e não me restou dúvida. Mira Ceti estava visível a olho nú com enorme clareza! Uma estrela que tentei várias vezes observar com binóculo e nunca tinha conseguido ali estava radiante com seu brilho avermelhado diante de meus olhos desarmados.


Fica a dica para observar essa estrela que está com seu brilho em toda potência por esses dias.


Segue imagem do Stellarium com o céu no horário que observei:




Abraços e disposição a todos que desejam observar esse céu maravilhoso que temos!

Renato